Como esses primitivos que carregam por toda parte o maxilar inferior de seus mortos, assim te levo comigo, tarde de maio, quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra, outra chama, não-perceptível, e tão mais devastadora, surdamente lavrava sob meus traços cômicos, e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes e condenadas, no solo ardente, porções de minh'alma nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza sem fruto.
Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva, colheita, fim do inimigo, não sei que portentos. Eu nada te peço a ti, tarde de maio, senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível, sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém que, precisamente, volve o rosto, e passa… Outono é a estação em que ocorrem tais crises, e em maio, tantas vezes, morremos.
Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera, já então espectrais sob o aveludado da casca, trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebres com que nos ungiram, e nas vestes a poeira do carro fúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos, sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo. E os que o vissem não saberiam dizer: se era um préstito lutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco. Nem houve testemunha.
Não há nunca testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos. Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem máscara? Se morro de amor, todos o ignoram e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata. O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados; não está certo de ser amor, há tanto lavou a memória das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta, perdida no ar, por que melhor se conserve
uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens.
...obrigada pela sua presença...o balão se foi e vovó madalena também mas deixou aqui muitas alegria e sabedoria para gente poder continuar nossos caminhos ...e uma saudade sem igual, que vamos aprender a conviver com ela sem deixar de ser feliz e nos lembrar que a vida e frágil delicada bonita e curta por isto precisamos nos amar, namorar, brincar se conhecer e se respeitar ... beijos Maria.
Quem sou eu para te dizer alguma coisa nessa hora difícil ...
Mas apesar de estar muito limitada para ler e escrever, tomo emprestadas palavras de Frei Cláudio e do Rubem Alves.
. quando chega a hora da morte, é hora de se contar estórias ... é assim que a imagem amada continua viva dentro de nós; você, por exemplo;
. tristeza é o sentimento que se tem ante a beleza que se perdeu;
. depois da partida, só fica a ferida; ferida que não se deseja curar, pois ela traz de novo à memória o belo que uma vez se foi;
. quem sabe que o tempo está fugindo, descobre, subitamente, a beleza do momento único que nunca mais será;
. as coisas que você ama, depois da sua morte, vão se tornar sacramentos: sinais da sua ausência; você estará sempre nelas;
. muitas pessoas, que jamais pronunciaram o nome de Deus, o conheceram como referência para a vida; foi o que você fez sempre, Madalena.
. colha o dia como quem colhe um fruto delicioso, pois ele é dádiva de Deus.
Sei que você sempre, a vida toda, teve como referência de vida a beleza, o pôr do sol, o cheiro do jasmim, o empurrar uma criança no balanço ou mesmo, Madalena, dar banho de pia nos nenês, lembra? E no que esses nenês se tornaram? Pessoas maravilhosas, que eu sei, gente que faz história, gente que sabe testemunhar a cidadania, gente que te ama e que vai ter cumplicidade nos objetos de seu amor. E é por isso que você se deu esses filhos maravilhosos; porque em você sempre existiu o desejo de alguém a quem pudesse entregar o mundo que ama; eles cuidarão dessa herança, depois que você partir.
Gosto de umas coisas que Frei Cláudio fala, como: o bom calor das cobertas na cama, a preguiça de acordar; café, pão e manteiga; um sapato velho; a caminhada pela rua, manhã cedinho; o céu estrelado ... silencioso; encontrar o livro que julgava perdido.
Sei que você sempre se comoveu com a beleza; por isso você viveu intensamente.
Vocês todos brilharam e comoveram meu coração em Lavras Novas... Há no firmamento uma nítida estrela ,imensurável e linda .Posso sentí-la todas as vezes que choro de saudade ou de alegria pela graça de ter vivido no Sagarana ao lado de Madá. Sempre,
Querida e doce amiga iluminada, aqui estou eu, na boca do balão para me alimentar das doces lembranças do passado que estão sempre presentes em minha vida. Presentes que você nos deu, nos deixou...
"Tenho o maior fascínio por gente que nasce com a famosa qualidade que o Djavan cita em uma de suas canções: "a dádiva de ter nascido ávido." Magdalena é assim: odeia a ideia de "comprar feito". Citando, agora, a minha mãe, eu diria que a Magdalena adora "inventar moda". O Bernard Shaw - outra citação, meu Deus! - dizia que as pessoas, digamos, normais aceitam o mundo como ele é; só os loucos querem mudar o mundo. Logo, precisamos de mil Magdalenas para fazer o mundo Melhor." ZIRALDO, 2007
6 comentários:
Tarde de Maio
Carlos Drummond de Andrade
Como esses primitivos que carregam por toda parte o maxilar inferior de
seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio,
quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,
outra chama, não-perceptível, e tão mais devastadora,
surdamente lavrava sob meus traços cômicos,
e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes
e condenadas, no solo ardente, porções de minh'alma
nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza
sem fruto.
Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva,
colheita, fim do inimigo, não sei que portentos.
Eu nada te peço a ti, tarde de maio,
senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível,
sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de
converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém
que, precisamente, volve o rosto, e passa…
Outono é a estação em que ocorrem tais crises,
e em maio, tantas vezes, morremos.
Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera,
já então espectrais sob o aveludado da casca,
trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebres
com que nos ungiram, e nas vestes a poeira do carro
fúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos,
sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo.
E os que o vissem não saberiam dizer: se era um préstito
lutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco.
Nem houve testemunha.
Não há nunca testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.
Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem máscara?
Se morro de amor, todos o ignoram
e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.
O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados;
não está certo de ser amor, há tanto lavou a memória
das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,
perdida no ar, por que melhor se conserve
uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens.
Amigos e familiares,
...obrigada pela sua presença...o balão se foi e vovó
madalena também mas
deixou aqui muitas alegria e sabedoria para gente poder
continuar nossos
caminhos ...e uma saudade sem igual, que vamos aprender a
conviver com ela
sem deixar de ser feliz e nos lembrar que a vida e frágil
delicada bonita e
curta por isto precisamos nos amar, namorar, brincar se
conhecer e se
respeitar ... beijos Maria.
ficamos muito emocionados e felizes por termos participado da "festa"-
homenagem aa Mada. Foi tudo muito lindo! Parabéns a família!
Madalena, minha amiga.
Quem sou eu para te dizer alguma coisa nessa hora difícil ...
Mas apesar de estar muito limitada para ler e escrever, tomo emprestadas palavras de Frei Cláudio e do Rubem Alves.
. quando chega a hora da morte, é hora de se contar estórias ... é assim que a imagem amada continua viva dentro de nós; você, por exemplo;
. tristeza é o sentimento que se tem ante a beleza que se perdeu;
. depois da partida, só fica a ferida; ferida que não se deseja curar, pois ela traz de novo à memória o belo que uma vez se foi;
. quem sabe que o tempo está fugindo, descobre, subitamente, a beleza do momento único que nunca mais será;
. as coisas que você ama, depois da sua morte, vão se tornar sacramentos: sinais da sua ausência; você estará sempre nelas;
. muitas pessoas, que jamais pronunciaram o nome de Deus, o conheceram como referência para a vida; foi o que você fez sempre, Madalena.
. colha o dia como quem colhe um fruto delicioso, pois ele é dádiva de Deus.
Sei que você sempre, a vida toda, teve como referência de vida a beleza, o pôr do sol, o cheiro do jasmim, o empurrar uma criança no balanço ou mesmo, Madalena, dar banho de pia nos nenês, lembra? E no que esses nenês se tornaram? Pessoas maravilhosas, que eu sei, gente que faz história, gente que sabe testemunhar a cidadania, gente que te ama e que vai ter cumplicidade nos objetos de seu amor. E é por isso que você se deu esses filhos maravilhosos; porque em você sempre existiu o desejo de alguém a quem pudesse entregar o mundo que ama; eles cuidarão dessa herança, depois que você partir.
Gosto de umas coisas que Frei Cláudio fala, como: o bom calor das cobertas na cama, a preguiça de acordar; café, pão e manteiga; um sapato velho; a caminhada pela rua, manhã cedinho; o céu estrelado ... silencioso; encontrar o livro que julgava perdido.
Sei que você sempre se comoveu com a beleza; por isso você viveu intensamente.
Adeus, Madalena; todo o meu carinho,
Valéria.
aos lindos FILHOTES de MADÁ
Vocês todos brilharam e comoveram meu coração em Lavras Novas...
Há no firmamento uma nítida estrela ,imensurável e linda .Posso sentí-la todas as vezes que choro de saudade ou de alegria pela graça de ter vivido no Sagarana ao lado de Madá.
Sempre,
Maria Silvia
Querida e doce amiga iluminada,
aqui estou eu, na boca do balão para me alimentar das doces lembranças do passado que estão sempre presentes em minha vida.
Presentes que você nos deu, nos deixou...
Para a Eterna... o meu carinho sem fim!
Beijo de luz onde quer que estejas
Walkiria
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